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terça-feira, 31 de maio de 2011
ESTÁBULO-COCHEIRA-ESTREBARIA NO CASARÃO E MUSEU FRIEDRICH
ESTÁBULO – COCHEIRA – ESTREBARIA
NO CASARÃO E MUSEU FRIEDRICH
MEMÓRIAS DE OUTRORA, DOS MEUS TEMPOS DE GURI
ELAS NÃO VÃO EMBORA E OUTRAS ESTÃO POR VIR.
Por:
Odilo Antonio Friedrich
31-05-2011
Estrutura e usos do prédio
O “Casarão e Museu Friedrich”, situado na Estrada Germano Friedrich, Nº 55, no Bairro Guarani, em Novo Hamburgo-RS, apesar de sua localização urbana, exibe ainda, nitidamente, traços de sua origem rural-colonial.
Germano Fernando Friedrich, meu pai, contava que a Estrebaria (nome pelo qual, sempre foi conhecida), tinha sido construída por pedreiros e marceneiros de origem italiana. Pelos meus cálculos, isto deve ter ocorrido bem no princípio do século passado.
Ela mede 10,5m de frente, por 13,5m de lado. É toda construída de pedras grés, rejuntadas, apenas, com barro amassado. Não está rebocada, nem por dentro, nem por fora, o que lhe dá uma linda aparência de rusticidade. Confere-lhe, até, um certo ar de imponência, como se pode ver nas imagens.
A Estrebaria era, praticamente, o núcleo ou o centro de trabalho da propriedade. Ali, no lado leste, estavam as duas baias para a “junta de bois de serviço” e as dos “cavalos de montaria”, além das 4 baias para vacas, em ordenha. No lado oposto, oeste, o espaço se dividia em baias, para vacas em ordenha, e um espaço, equivalente a duas baias, para terneiros ainda não desmamados.
Naquela época, era costume deixar os animais na Estrebaria, durante a noite. Atualmente, com o advento da ordenha mecânica, e por questões sanitárias e de higiene, este sistema ficou abolido. As vacas dormem no curral.
Ao centro da Estrebaria, há um corredor amplo, de 4 m de largura, no sentido sul-norte, 54 m2, que servia para guardar forragens:- ração, mandioca, farelos, aveia e azevem, verdes, além de palhas de coqueiro, cana de açúcar, sorgo forrageiro e milho debulhado. Tudo, usado em maiores quantidades durante o inverno, quando se tornava escassa a pastagem no campo. O feno, de pendões e de palha de milho, assim como, o milho em espiga, ainda por descascar e debulhar, eram armazenados no sótão para seu uso,na época chuvosa do inverno.Este amplo corredor servia, tanto para trabalhos, como, descascar e debulhar milho, fazer balaios, cozinhar “lavagem” para os porcos, bem como, para guardar as cangas, os arreios, as correntes e cordas, as ferramentas e instrumentos de trabalho, como arados, foices, pás, enxadas, carrinho de mão, etc.
Como as rações, a base grãos, atraiam muitos ratos, era na Estrebaria que se mantinham os gatos... Ali eram tratados com leite e restos de comida e ali se reproduziam. Raramente, algum vinha até a cozinha...
Atualmente, serve como abrigo noturno, espontaneamente escolhido pelos pavões, galinhas de angola e pombas, que estão soltos, no pátio.
AMPLIAÇÃO
Mais recentemente, agregou-se um “puxado”, no lado leste da estrebaria, medindo 7 m de largura por 13,5m de comprimento. Dêste, a metade é destinada ao galinheiro e a outra, abriga a esterqueira e um cocho, cavado em madeira de lei, para servir de comedouro, para alimentar o gado nos dias de chuva...Os demais cochos , também, são feitos de troncos de árvores cavadas a enxó, em forma de semi-cilindro.
ENTORNO DA ESTREBARIA
Ao lado norte e o leste, situam-se a mangueira ou curral, o brete de contenção e o embarcadouro, para facilitar o manejo do gado:- atualmente, são 6 fêmeas, um touro e um jumento... Estes pastam numa área de 3,5 hectares.
Em torno do açude, a 30 m, encerram-se, cerca de 30 gansos, meia dezena de marrecos, alguns patos, além das aves de passagem:- maçanicos, biguás, garças, bicudos, etc.
De vez em quando, aparece um casal de chimangos gigantes, o qual ainda não encontrou o local apropriado para reproduzir-se, aqui.
Do lado de fora da Estrebaria, encontrava-se descansando, o tanque, esculpido em pedra grés, medindo 1 metro cúbico. Meu pai afirmava que teria sido usado para salgar carne. Talvez, para fazer charque. Cabe toda a carne de um boi. Este tanque está, hoje, colocado à direita, do lado de fora da porta sul.
PRINCIPAIS PERSONAGENS E ATORES DESSA UNIDADE RURAL
Conhecer os aspectos materiais, arquitetônicos e a utilização da Estrebaria, cocheira ou estábulo, é, sem dúvida, muito importante, para a preservação da memória do prédio e do lugar.
Entretanto, mais significativo, é saber um pouco mais sobre as pessoas que ali laboravam e a motivação de sua laboriosidade. Poderei contar, apenas, o que eu vivenciei, desde minha infância e o que aprendi com meu pai, com minha mãe, com minha Avó Elizabeth e do meu tio e padrinho Carlos. Evidentemente, no princípio, todos tinham que trabalhar forte: -No início, meu Avô Anton, a Avó Elizabeth, e um sobrinho da minha avó, de nome Frederico Fix. Depois, vieram os filhos, Luis, Germano e Carlos e uma parenta, adotada pela avó, chamada Augusta Strauss. Esta nós a chamávamos, só de “Lála”. Sempre que posso, expresso minha gratidão à minha Avó Elizabeth e, também, à Lála, pois, ambas tomaram conta de mim, até meus 10 anos de idade. Meu padrinho Carlos, também, sempre foi muito protetor comigo.
Desde quando me entendo, o Tio Luis Friedrich, já morava no Casarão, porém, sei que ele, ao casar-se com a Tia Frida, foi morar e trabalhar em Santa Maria da Boca do Monte. Ao regressar, passou a trabalhar independente da família.
O “velho” Fix, montara um apiário, em torno de 70 caixas Schenck, e fabricava vassouras, o que ocupava todo seu tempo. Porém, como era solteirão, não se separou da família. O Tio Carlos, meu padrinho, solteiro e muito apegado à sua mãe, minha avó, ficou morando no Casarão. Era ele quem cuidava dos bois de serviço, das carretas, do preparo da terra e dos demais serviços, além de seu cavalo de estimação... Uma pessoa muito especial, também, nesta história foi o Antenor Jaeger, sobrinho de minha mãe. O Antenor ou “Noro”, veio para o Casarão, lá pelo final dos anos 30, trazido pelo meu pai. Em sua infância ele havia adquirido poliomielite que danificou uma de suas pernas. Entretanto, mesmo “aleijado”, ele fazia todos os trabalhos. O primo Antenor ajudou muito à família durante o resto de sua vida. Chegou com 36 anos de idade e faleceu aos 75.
Todos trabalhavam nas lavouras e na lida com as vacas e os animais:- gado, porcos, aves ,abelhas, gansos,etc. Dizia-se que o leite, embora seu preço não remunerasse o trabalho que exigia, era um produto que “pingava um dinheirinho todos os dias”... Servia para comprar as coisas que não se produziam. Além disso, ainda hoje, o leite e seus derivados, a carne de porco, a banha e a carne de gado, produzidos em casa, assim como, o feijão, o aipim, a batata doce e a outra, o milho (farinha), constituem a porção fundamental da dieta das famílias rurais.
A FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO E NA FORMAÇÃO DO CARÁTER
Eu nasci em 14/07/1927, o Niveo, em 24/09/1929 e o Jaime (falecido) em 16/02/1936. A infância e a adolescência as passamos no convívio com essas pessoas maravilhosas. Elas nos ensinaram um mundo de coisas e “forjaram” grande parte dos nossos valores de nossas personalidades e nossas normas de conduta. A honradez, o valor do trabalho, a poupança, o amor à natureza, e, principalmente, a importância do estudo. Eram estes, os valores mais exaltados. Ainda hoje me recordo dos conselhos da minha avó, da minha mãe, da Lála, do meu pai e do padrinho..Em geral seus ensinamentos eram passados através de ditos ou ditados populares,que eles aprenderam na vida. Excelente pedagogia!
O ENSINO FORMAL
Aos meus 7 anos, chegara o momento de ir para a “escola”. Frequentei o Colégio São Jacó, desde o curso primário até completar o ginasial. Daí, transferi-me para o Colégio Anchieta, em Porto Alegre, onde estudei de 1944 até 1947. Em 22 de dezembro de 1952, formei-me Eng. Agrônomo, pela URGS.
MÃE CECÍLIA
Mas, eu queria falar-lhes um pouco sobre nossa Mãe Cecília (de Odilo, Niveo e Jaime), pois, ela tem muito a ver com a Estrebaria. O pai, Germano, casou-se aos 39 anos, com Cecília Frederica Jaeger, que tinha apenas 20 anos de idade, oriunda de Porto Palmeira, Sapiranga-RS. No início nem a cozinha era em separado. Minha mãe incorporou-se direto ao trabalho. Todos trabalhando e usufruindo, em conjunto, dos parcos resultados.
Desejo referir que minha Mãe Cecília contribuiu, enormemente, para minha formação, principalmente, nos anos de São Jacó. Era, quase exclusivamente, com o dinheiro auferido com a venda do leite, que, nós levávamos todos os dias para o distribuidor, na Vila Nova e, depois, no Centro, que pagávamos nossos estudos. A mãe ordenhava, a mão, de 7 a 9 vacas, pela manhã e à tardinha. Não é exagero dizer que a mãe trabalhava desde as 5 horas da madrugada, até as 9 horas da noite, enquanto sua coluna o permitiu.
Pela manhã depois da ordenha tinha que aprontar o café e as merendas para podermos ir ao Colégio. Para tanto, enquanto minha Avó Elizabeth encilhava minha petiça, minha mãe encilhava a do meu irmão Niveo. Ela cozinhava, lavava e passava a roupa de toda a família, em geral, pela manhã. À tarde, ia cultivar a horta e cortar aveia ou azevém (fazer pasto), para depois, tratar e ordenhar as vacas.
Possuo uma fotografia da minha mãe, vindo da estrebaria para casa, com um balde de leite, e, provavelmente, ainda, de pés descalços, aos 63 anos de idade...
Ao finalizar o dia, se tomava algumas “cuias de chimarrão”, com toda a família reunida. Enquanto isto, o aipim ia fritando, lentamente, na frigideira com banha, e o restante da comida ia esquentando, em cima do fogão... À época, se usava almoçar, tomar café da tarde e jantar.
É por tudo isto que eu afirmo que a Estrebaria tem muito que ver com minha Mãe Cecília.
CECÍLIA- MÃE E AVÓ ABNEGADA, ZELOSA E DEDICADA
Outra faceta emocionante da Mãe Cecília, era sua dedicação aos filhos e netos. Aos domingos, ela se esmerava fazendo massa em casa e matando um, ou, dois frangos para fazer uma panelada de sopa, muito apreciada pelas crianças e pelos adultos, também... Além da sopa, sempre havia a galinha ensopada, com a massa e batatas cozidas, além das saladas e das sobremesas feitas com frutos da época, ou, de suas conservas.
Juntando-se as famílias do Niveo, com a minha, mais as três ou quatro pessoas da casa, e, os ”agregados”, perfazíamos um total de, não menos de 18 a 20 comensais...Ver a mesa cheia parecia dar-lhe muita satisfação. Em geral ela não sentava à mesa conosco, ficava servindo. Mãe é mãe e avó é avó...
FINALIZANDO
Tanto o pai, quanto a mãe, não pouparam conselhos, nem esforços, para que os filhos pudessem estudar... Para que não tivessem que “passar tanto trabalho como eles..”
Acho que seus sacrifícios não foram em vão. Eles puderam acompanhar, orgulhosos, as caminhadas dos filhos, às vezes inseguras e incertas, mas, nunca desviadas dos princípios e valores éticos e morais que eles nos legaram e que nossas respectivas profissões nos fizeram jurar.
Creio que esta singela monografia demonstra o quanto estamos impregnados de lembranças, de normas e valores culturais, que se instalam sem a gente sentir, mas, que nos acompanham por toda a vida.
Foi um privilégio para mim, ter vivenciado todos os momentos de minha infância e adolescência, mesmo após já ter família, junto com essas pessoas maravilhosas, em contato com a natureza e com o trabalho na terra. Hoje, sinto muito orgulho de ter nascido nessa família de Colonos. De ter levado leite ao Centro, na garupa do cavalo, passando pelas ruas principais da cidade. Naquela época, havia um certo preconceito em relação as atividades agrícolas. Achávamos que não era “chic,” ser leiteiro. Aos 15 anos a gente se sentia “inferiorizado” para namorar com as gurias da cidade...parecia que não “combinava” conversar com elas, de cima do cavalo...
Privilégio, ainda maior, é poder relatar a vocês, um pouco dos meus sentimentos, em relação a este fragmento da minha história de vida.
OBRIGADO, MEU DEUS, PELOS PRIVILÉGIOS E TUDO O MAIS QUE ME CONCEDESTE !
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litibelinha@gmail.com
ResponderExcluirparaANELISE PORT GEMMER FROENER KUNRATH
data4 de junho de 2011 10:44
assuntoRe: *ESTÁBULO-COCHEIRA OU ESTREBARIA DO CASARÃO E MUSEU FRIEDRICH
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Agradeço, queridos amigos, por esta gentil descrição. Gostaria de paraberniar o senhor Olilo. Admiro a sua tenacidade em respeitar e valoizar o que seus pais fizeram, atitudes raras atualmente. Lendo o texto, parecia que estava lendo a minha própria infância e juventude. A única diferença é que eu morava em Gramado e, naqueles tempos, Gramado era quase o "fim do mundo". Não tinha escolas. Por isso, minha família me transferiu para Campo Bom, na casa de uma tia, mais tarde para um internato em São Leopoldo. No mais, é tudo igual. Repasso a outros o que escreveram. A maioria das pessoas nem sabem o que significam a maioria dos vocábulos.
Abraço liti Belinha
Friedrich luifriedrich@yahoo.com.br
ResponderExcluirparaANELISE PORT GEMMER FROENER KUNRATH
data4 de junho de 2011 19:44
assuntoRes: *ESTÁBULO-COCHEIRA OU ESTREBARIA DO CASARÃO E MUSEU FRIEDRICH
assinado poryahoo.com.br
Parabéns pelo relato que me levou ao passado, aonde não participei muito, mas nas minhas férias passava alguns dias com os avós Luis /Frida, quando ia na casa do Tio Germano. Não me recordava mais do Agenor, mas o conhecia bem, gostava dele pois gostava de acompanhar nós pelas brincadeiras que aprontavamos. Outra pessoa que me marcou muito foi o irmão do Odilo, Jaime, ele continuava em casa, enquanto que o Odilo e Niveo já tinham se "debandado", algumas ocasiões ele passeava com nós no carro dele. CALHAMBEQUE CONVERSIVEL, chevrolet, acho que o ano era 1928. SHOW. Outro dia falaremos.
Abr
Lui