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sexta-feira, 14 de maio de 2010

ABC DOMINGO NO MUSEU FRIEDRICH

ENTREVISTA COM ODILO FRIEDRICH E LEON LAMBERT NO ABC DOMINGO DO GRUPO EDITORIAL SINOS.

JORNALISTA :EDUARDO ANDREJEW
FOTÓGRAFA : NÉIA DUTRA

www.abcdomingo.com.br
Especial | domingo, 9 de maio de 2010 - 14h24
Memórias de Cuba: uma experiência na ilha revolucionária
Odilo Friedrich e Léon Lambert conheceram Cuba após o triunfo da revolução liderada por Fidel.
Eduardo Andrejew/Da Redação

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Novo Hamburgo - Uma singular experiência nos primeiros anos da Cuba revolucionária. Esta é a história que une o hamburguense Odilo Antonio Friedrich, de 82 anos, e seu amigo francês Léon Lambert, 81. Engenheiros agrônomos, ambos trabalhavam pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), da ONU. Na época, foram designados para prestar assessoria na área de agricultura e pecuária aos cubanos. Era o ano de 1964, época em que os Estados Unidos ainda disputavam a hegemonia política e econômica com a extinta União Soviética.
Nesse ruidoso contexto da guerra fria, Odilo e Léon se conheceram na ilha e tornaram-se amigos. Quase 37 anos depois, os dois se reencontraram pela primeira vez em Novo Hamburgo. Odilo recebeu o amigo em sua residência – onde hoje funciona o Museu Friedrich.

Léon trabalhou por muitos anos no Brasil e, por isso, fala português fluentemente. No início do ano retornou ao País para rever amigos brasileiros. Esteve no norte do Mato Grosso – onde trabalhou na década de 50 – e passou por outras localidades até chegar ao Rio Grande do Sul, sua última parada antes de voltar à França. O reencontro com Odilo foi um bom momento para conversar sobre os velhos tempos, inclusive a experiência em Cuba.

Odilo atuava na extensão agrícola como engenheiro agrônomo, enquanto Léon cuidava da sua especialidade: pastagem e forragem. "O desafio era descobrir como adequar as tecnologias existentes para plantio e criação de gado às características de Cuba", lembra Odilo. A tarefa estava longe de ser simples. E o desafio ficava mais complicado numa época em que os Estados Unidos já haviam imposto o embargo econômico ao país.

Além disso, era preciso lidar com a realidade dinâmica e até contraditória da ilha e seu processo revolucionário. O trabalho de Odilo duraria dois anos e meio. Seu amigo Léon permaceria por um tempo maior. Os dois voltariam a se ver rapidamente em 1973, no Chile.

O homem que "xingou" Fidel
Odilo Friedrich e Léon Lambert conheceram Cuba após o triunfo da revolução liderada por Fidel Castro (foto acima) e Ernesto Che Guevara (detalhe). Léon lembra ter "xingado" Fidel – coisa que poucos se atreviam a fazer – por sua maneira incorreta de trabalhar com a pastagem. Fidel acabou aceitando os argumentos do francês.

Quanto ao lendário Che, nenhum dos dois especialistas teve a oportunidade de conhecê-lo. Ambos recordam que a permanência no país foi relativamente tranquila. Por outro lado, podiam avistar, não muito longe da costa, uma embarcação de guerra norte-americana zelando pelo embargo econômico imposto à ilha. Dois anos e meio depois, Odilo seria convocado para trabalhar no Chile. Quando se despedia de Léon, Cuba estava prestes a colher uma safra recorde de cana-de-açúcar: 10 milhões de toneladas.

Contradições e acertos de um país em plena ebulição
Léon Lambert lembra a maneira curiosa pela qual foi chamado a realizar um trabalho em Cuba. Fidel Castro havia concebido um sistema de confinamento de gado em "lotes secos". Os animais permaneciam no mesmo local. Enquanto isso o capim pangola (rico em proteína) era cultivado para depois ser cortado e finalmente transportado para alimentar o gado. "O ministro da Agricultura não queria dizer para o Fidel que aquilo era uma loucura e decidiu chamar um técnico...", lembra Léon, que conseguiu convencer Fidel a adotar o pastoreio rotativo.

Para Léon, um dos principais entraves para a agroeconomia cubana era o próprio Fidel e suas ideias pouco ortodoxas. "Ele ficava inventando técnicas que não podia aplicar", critica. Outro problema era motivar o povo a plantar. Havia 1,5 milhão de agricultores na ilha, mas os resultados ficavam abaixo do esperado. Segundo Léon, a causa estava no fim da competitividade. "A comercialização foi totalmente limitada. Tudo era vendido para empresas do Estado e o valor pago não motivava o produtor." Era possível ver, conta, frutas caindo do pé sem serem colhidas. O líder cubano também adquiriu 50 mil tratores e equipamentos agrícolas do leste europeu, mas que logo viraram sucata.

Por outro lado, a ilha já triunfava em duas outras áreas: saúde e educação. "Na parte de educação, era uma maravilha. Crianças com acesso à escola e com tudo fornecido pelo Estado", recorda Odilo Friedrich. Além disso, Fidel mandou fabricar sapatos padronizados para que a população mais pobre tivesse o que calçar quando fosse à escola.

Odilo observa que naquela época, ou seja, por volta de 1964, Cuba já havia conseguido avanços significativos na área de saúde mesmo enfrentando problemas. As farmácias não tinham estoque suficiente de remédios. Mesmo assim, o país já havia conseguido erradicar a poliomielite.

Foto: Néia Dutra/GES

Tags/ palavras-chave:Estado, ONU, Novo Hamburgo, política, União, saúde, Estados Unidos, Brasil, guerra, educação, França, imposto, trabalho, homem

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